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Soluções ambientais e resiliência na Rebio Guaporé em Rondônia
Em meio a uma das regiões mais biodiversas da Amazônia, a Reserva Biológica do Guaporé, em Rondônia, abriga ecossistemas únicos, ameaçados por pressões ambientais crescentes, como o aumento da população de búfalos, ação de madeireiros e a curiosa presença do pirarucu que, apesar de ser uma espécie amazônica, representa um risco para espécies nativas da região.
Criada em 1982 e com mais de 615 mil hectares, a unidade integra o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) desde 2017 e, nos últimos anos, tem intensificado ações de educação ambiental para conscientizar moradores locais sobre os impactos destas atividades, devido ao status de proteção integral da reserva.
De acordo com Lidiane França da Silva Tomazoni, chefe do Núcleo de Gestão Integrada Cautário-Guaporé, “as ações de educação ambiental buscam não apenas informar, mas também envolver as pessoas, criando um vínculo mais próximo entre esses atores, a gestão da unidade de conservação e a natureza”, afirma.
Embora o pirarucu seja uma espécie nativa da Amazônia, ele é considerado exótico invasor dentro da REBIO Guaporé pois o peixe não é originário das bacias localizadas no interior de Rondônia, a jusante da extinta cachoeira de Teotônio, no Rio Madeira.
Estudos apontam múltiplos fatores para a presença do pirarucu na região, incluindo falhas em pisciculturas que permitiram o escape de alevinos, alterações no curso dos rios causadas por usinas hidrelétricas, eventos de cheias históricas e até introduções acidentais ou intencionais por humanos.
Apesar de ainda não existir manejo autorizado do pirarucu dentro da REBIO Guaporé, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) tem realizado encontros com as comunidades sobre o tema. Segundo Lidiane, o diálogo e as ações educativas visam explicar os impactos das espécies invasoras e apresentar alternativas sustentáveis inspiradas em outras unidades de conservação, como o manejo comunitário em pequena escala e o ecoturismo.
“É um processo de escuta e sensibilização. Caso haja interesse por parte das comunidades, os projetos precisam ser elaborados e submetidos à análise e aprovação para só então serem implantados”, esclarece a gestora, que complementa: “A parceria com organizações locais, grupos de líderes comunitários e educadores ambientais tem sido fundamental para disseminar conhecimentos sobre os ecossistemas da região, a biodiversidade e os serviços ambientais prestados pela floresta.”
O ARPA apoia com e à infraestrutura e ao funcionamento das UCs, criando as condições necessárias para que essas ações aconteçam com mais frequência e qualidade. Isso inclui apoio a atividades que promovem a sensibilização de comunidades locais para conservação e uso sustentável, capacitações e oficinas para participação comunitária, ações educativas de proteção para manejo e proteção territorial, além de atividades de comunicação para divulgar a importância da UC e aproximar o público de seus desafios e relevância.
Expedição quilombola
Um exemplo recente foi a expedição científica realizada em fevereiro de 2024 nas comunidades quilombolas do Vale do Guaporé. A atividade levou ações socioambientais às populações locais, unindo preservação ambiental, resgate cultural e práticas de educação ambiental. As oficinas envolveram temas como gestão do território, uso sustentável dos recursos naturais e valorização das práticas tradicionais.
A comunidade Quilombola de Santo Antônio do Guaporé, enfrenta desafios complexos relacionados à sua sobreposição com a REBIO Guaporé. A comunidade, reconhecida como remanescente quilombola desde 2004, possui um território de 7.221 hectares que se sobrepõe à área da reserva. Um Plano de Utilização foi estabelecido em 2017 para conciliar os interesses da comunidade e da REBIO, definindo regras de uso para a área de sobreposição.
A REBIO Guaporé abriga uma diversidade de espécies vegetais e animais, incluindo algumas em risco de extinção. Espécies como a maçaranduba (Manilkara amazonica), o amarelão (Apuleia molaris) e o janité (Brosimum ovatifolium) são parte da rica flora local.
A presença de búfalos ferais (selvagens) dentro da unidade também representa uma ameaça concreta à biodiversidade da reserva. Esses animais, introduzidos de forma desordenada na região, causam impactos como o pisoteio de áreas alagadas, destruição de ninhos e alteração do equilíbrio dos ecossistemas naturais. O controle dessa população tem sido debatido por órgãos ambientais e comunidades locais, que buscam alternativas sustentáveis e efetiva.
Para Lidiane Tomazoni, a educação ambiental é essencial para transformar a relação das pessoas com o meio ambiente, e superar desafios como a invasão dos búfalos: “A conscientização das novas gerações é um dos pilares para garantir que a preservação ambiental seja entendida não apenas como uma responsabilidade coletiva, mas também como uma ação que pode trazer benefícios para todos, tanto no presente quanto no futuro.”
Ao promover o entendimento dos desafios ecológicos e das soluções possíveis, a educação ambiental se mostra um instrumento poderoso para inspirar mudanças de comportamento e atitudes. Para Lidiane, a educação ambiental contribui para construir uma base sólida para o desenvolvimento sustentável da Rebio Guaporé: “Assegurar um legado positivo para as próximas gerações depende da harmonia entre as atividades humanas e os recursos naturais”, conclui.
O ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia é um projeto do Governo do Brasil, é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e tem o FUNBIO como gestor e executor financeiro. É financiado com recursos de doadores internacionais e nacionais, entre eles o governo da Alemanha por meio do Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW), o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) por meio do Banco Mundial, a Fundação Gordon and Betty Moore, a AngloAmerican e o WWF.